quinta-feira, 22 de maio de 2008

Entrevista com Pedro Pondé.


ENTREVISTA – PEDRO PONDÉ
Por Frederico Soares e Bruna Rocha
Pedro Pondé, atual vocalista d’O Círculo, uma das bandas de pop/rock que vem se destacando na Bahia, declara-se um bravo. O ator e ex-vocalista do Scambo, grupo no qual conquistou notoriedade e um considerável número de fãs, nos falou de sua vida pessoal e profissional, sobre sua relação com sua banda, o público e a mídia. Extremamente à vontade e em tom informal, o cantor conta-nos sua história e seus objetivos, e discute o espaço do rock na Bahia. Veja com mais detalhes um pouco da vida de Pedro Pondé na entrevista abaixo.
Foto: por http://www.flickr.com/photos/mbware/


Quando e como surgiu o seu interesse por música?
Rapaz, interesse profissional não tem tanto tempo quanto o interesse natural mesmo. Em casa, meus pais ouviam muita música e eu também sempre gostei muito. Ou seja, isso acabou entrando na minha vida assim meio sem querer. Assim como meus pais me ensinavam milhões de coisas, a música me ensinava milhões de coisas também. Então, tendo os pais trabalhando o tempo todo fora, a criança acaba buscando aonde se segurar. A minha geração foi a primeira que cresceu com a televisão, então a televisão fez um pouco o papel de babá. Mas a minha babá foi a radiola. Minha mãe tava sempre ali, mas a radiola sempre presente. Acho que a música já chegou assim, dando um apoio, desde cedo.

Como você define o som d’O Círculo? Quais são as influências da banda?
Eu não defino o som d’O Círculo, porque a proposta da banda é justamente não ter definição. Se você quiser uma definição ainda assim muito longe da realidade, você vai ter que ouvir a definição de todos, e a partir dessas definições chegar a uma.

Mas em outras entrevistas você falou do Rock Popular Brasileiro...
Isso foi mais para sintetizar o que aconteceu... Acho que rolou uma síntese do rock com a música brasileira há certo tempo, mas não se deu um nome para isso. Paralamas e Los Hermanos já fazem, Chico Science fez... E é importante a gente entender historicamente como isso aconteceu. Há um tempo, se colocasse uma guitarra elétrica numa música de MPB, as pessoas não aceitariam isso bem. Então houve uma reviravolta entre misturar ou não música brasileira com a música de fora e rolou a Tropicália, que mostrou que não se deve ter preconceito quando se trata de arte. Então as coisas vêm se misturando bastante e eu pensei nesse nome... Existe MPB e eu pensei em RPB. O Rock Popular Brasileiro, por ter influência de uma música externa, não é menos brasileiro.

Como ocorre o processo de composição? Em que momentos ou lugares ele ocorre?
Não tem processo... É arte. A arte é muito parecida com a vida porque não tem como prever muitas coisas. Você tenta criar um caminho diversas vezes, um roteiro para que as coisas aconteçam, mas na verdade a gente não tem muito controle sobre isso. A gente tem que ter a técnica preparada, porque quanto mais você se prepara, mais você tem espaço para improvisar e criar. O que a gente se preocupa é isso: sempre estar ativo, sabe? Porque não adianta ficar deitado em casa esperando a inspiração vir... Vindo ou não a inspiração, a gente tá trabalhando. Mas quanto mais trabalhamos, mais ela vem.

Você também é ator...
Sou basicamente ator... Eu não sei se eu sou tão cantor quanto ator...

Então porque você optou por seguir a carreira musical e não teatral?
Na minha vida acontecem coisas muito estranhas... Há muito tempo atrás eu tinha essa ligação com a música e pensei bastante nesse lance de ser vocal quando eu era guri. Depois isso passou e eu comecei a pensar muito em teatro, em cinema... Assistia a uns três filmes por dia desde guri, por isso eu acordava sempre tarde e ia mal na escola até por conta de estar com sono na aula, de ter virado noite assistindo até filme bobo, mas como eu estava doido por cinema, assistia tudo que podia. Então, pensei no teatro muito forte, mas não estava tendo atitude para ir atrás. Já tinha feito teatro na escola, mas ainda não tinha tomado uma atitude definitiva de fazer um curso. Aí aconteceu de ir à casa de um amigo e tinha um professor de teatro lá e eu falei com ele: “Pô, não tenho grana, mas preciso pagar um curso de teatro...”, e o cara “Não, tem um grupo de teatro do SESI, que é de funcionários, você não é filho de funcionário, mas eu vou tentar te encaixar lá”. O curioso que o grupo era basicamente negro e eu tenho descendência negra, mas minha pele é parda – pelo menos foi isso que me disseram no exército. Entrei nesse grupo e teve um conflito, o que chamariam de racismo ao contrário, mas que aconteceu naturalmente... E eu tive que provar que queria muito estar ali.

Rolou preconceito?
Eu não digo que foi um preconceito criminoso, porque as pessoas do grupo passaram por coisas absurdas. Mas eu acho que não existe racismo ao contrário, existe racismo, entende? Nesse contexto desse grupo eles lutaram muito para conquistar aquilo ali e acho que foram maltratados de diversas formas durante a vida inteira... As pessoas ali estavam muito marcadas, a raça negra é muito ferida no Brasil, então rolaram umas reações inesperadas, por reflexo, né? Involuntário. Porque existe uma mídia inteira falando que o preto não pode, que é inferior. E eles estavam ali num grupo formando uma força só pra dizer pro mundo “Estamos aqui, somos fortes, criativos e inteligentes”. De certa forma, eles achavam que a minha cor podia interferir naquela política tão forte que é o alicerce da vida deles. E eu era ousado e, mesmo amador total, em um mês já estava conquistando personagem principal, em dois meses já era o ator principal da companhia, viajando para tudo que é canto. Larguei a escola até por conta disso, no segundo grau, porque se eu ficasse na escola, não viajava. Mas o racismo, nesse grupo, se quebrou logo, foi só o primeiro impacto. A pessoa não é a cor ou o sexo que ela tem, é milhões de outras atitudes. Então, por conta dessas atitudes, eu consegui conquistar as pessoas e elas também me conquistaram. Cresci e aprendi muito nesse grupo. Era no SESI ali no Rio Vermelho, no casarão ainda, e a gente já fazia aula lá antes de ser teatro. A gente era bem adolescente e fazia aula de balé afro, música, dicção, interpretação, clown... Viramos adultos, cidadãos e atores lá dentro.

E qual foi o ponto em que você disse não?
O ponto que eu fui expulso, né? Fui expulso desse grupo que eu amava tanto...

Por quê?
Porque eu senti que a gente estava trabalhando demais pro SESI, fazendo teatro de empresa, e tudo acabou perdendo a qualidade porque a quantidade começou a falar mais alto. Eu fui expulso porque exigia mais ensaios e um pouco menos de teatro de empresa. Os atores às vezes iam para o palco sem saber nem as próprias falas, tinham que improvisar qualquer coisa... Fiquei nessa situação várias vezes e não foi agradável. Era lucrativo para a empresa, mas para mim não fazia o menor sentido. No fim das contas, fui tachado de rebelde, mas eu só queria o melhor para todo mundo ali.

Você gosta de fazer comerciais publicitários?
Eu gosto e sinto falta de fazer teatro – não faço há muito tempo. Quando faço um comercial, para mim, acaba sendo um pouquinho de teatro, porque não deixa de ser um personagem ali vendendo a idéia. Eu me preocupo muito com o que eu vendo também, não faço comercial para qualquer coisa. Já fiz em tempos muito difíceis, porque meus pais já são falecidos, eu só conto comigo mesmo para pagar minhas contas e cuidar da minha filha de seis anos. Então, eu sou bastante utópico e ao mesmo tempo realista. É como o trecho daquela música do Raul Seixas (Eu Também Vou Reclamar), “Dois problemas se misturam/ A verdade do universo/ E a prestação que vai vencer”, entendeu? Quando a gente está na aba dos pais, fica mais fácil ter ideologias inabaláveis e julgar qualquer pessoa. Mas quando você cai na vida real, você vê que tem que ser flexível com várias coisas que não era antes.











Um comentário:

Palacios disse...

Sem atualização contínua blog vira coluna semana. Se tanto!
Você tem material. Por que não posta?

marcos palacios